O momento de despedida de um ente querido é doloroso. Durante o luto, é comum uma série de sentimentos intensos, como tristeza profunda, angústia, raiva, culpa e até mesmo alívio em casos de mortes após doenças prolongadas. Essas emoções podem ser desencadeadas por lembranças, eventos, lugares ou objetos que remetem à pessoa que se foi. É importante compreender que não há um prazo fixo para o luto, e cada indivíduo precisa de tempo e espaço para vivenciá-lo e processá-lo de acordo com suas particularidades.
Além da saudade, as famílias em Uberlândia enfrentam uma série de desafios financeiros e burocráticos durante o processo de velório e sepultamento. A realidade econômica da cidade, aliada aos altos custos dos serviços funerários e às restrições de acesso, são um fardo adicional aos enlutados. É imprescindível refletir sobre essas dificuldades e buscar soluções para garantir que todos possam vivenciar esse momento com dignidade.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Empresas Funerárias e Administradoras de Planos Funerários, o custo médio para organizar uma cerimônia, velório e sepultamento em Uberlândia é de aproximadamente R$2.850. Essa quantia está além da realidade financeira de mais de 58 mil famílias uberlandenses que sobrevivem com apenas um salário mínimo, conforme dados de 2022, do então Ministério da Cidadania. A discrepância entre os valores dos serviços e a capacidade financeira das famílias uberlandenses ressalta uma injustiça social e a necessidade urgente de alternativas mais acessíveis.
O aumento de 7,29% aprovado pela Câmara Municipal para os serviços prestados nos Cemitérios Municipais em 2023 apenas agrava a situação. A incidência da correção monetária com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior, que será aplicada a partir de 2024, amplia ainda mais os custos do processo fúnebre. Essas medidas onerosas penalizam as famílias em um momento de fragilidade emocional, dificultando ainda mais a despedida de seus entes queridos.
Embora a Prefeitura de Uberlândia ofereça um serviço assistencial de sepultamento para pessoas de baixa renda, essa iniciativa acaba sendo insuficiente diante das necessidades da população enlutada. Muitas famílias se veem obrigadas a contrair dívidas ou recorrer a empréstimos para garantir uma despedida digna, em forma de velório. Essa situação é injusta e agravante, pois adiciona um peso financeiro considerável a um momento já emocionalmente desafiador. Digo isso baseado em situações reais de famílias que me procuraram desesperadas com o falecimento de entes queridos e sem condições financeiras de arcar com as altas despesas.
Também coloco aqui minha experiência pessoal na perda de meu avô em que por não termos quaisquer condições financeiras a época de seu falecimento em 2013, um grupo de amigos se reuniu e dividiram entre si as despesas, mas essa não deve ser a realidade das pessoas de baixa renda, precisarem contar com a empatia e solidariedade de terceiros por um descaso do Poder Público.
Diante das dificuldades enfrentadas, é essencial que haja mobilização e luta para garantir que todos tenham a oportunidade de se despedir adequadamente, independentemente de suas condições financeiras. É preciso estabelecer políticas públicas mais abrangentes e inclusivas, com preços justos e acessíveis, e medidas que atendam às necessidades específicas das famílias mais vulneráveis.
A transparência e a fiscalização dos serviços funerários na cidade também desempenham um papel fundamental. É necessário garantir que os preços praticados sejam condizentes com a qualidade dos serviços prestados. A criação de mecanismos de controle e regulação mais efetivos pode ajudar a evitar abusos e garantir que todas as famílias tenham acesso a serviços funerários adequados, independentemente de sua condição socioeconômica.
O processo de velório e sepultamento é um momento de despedida e luto, e as famílias não deveriam ser sobrecarregadas com questões financeiras e burocráticas nesse momento delicado. A dignidade é um direito fundamental e deve ser assegurada a todos, independentemente de sua condição socioeconômica. Elas não devem ser uma barreira para que as famílias possam se despedir de seus entes queridos de maneira respeitosa e adequada. Somente com ações coletivas e políticas públicas mais abrangentes e inclusivas será possível garantir que todos tenham a oportunidade de honrar a memória de seus entes queridos de forma digna.