Como a inércia do Executivo agrava a situação das enchentes em Uberlândia
Na última quarta feira (16), vimos Uberlândia alagar novamente. De carros boiando a trabalhadores tomando chuva dentro do transporte público, as cenas chocantes refletem um problema que persiste há décadas e não apenas na avenida Rondon Pacheco. Em grande maioria, bairros da periferia, como Morumbi e Planalto, sofrem com os impactos destas tempestades todos os anos.
Em decorrência da crise climática, temos uma frequência cada vez maior de chuvas fortes assolando as cidades brasileiras, muitas vezes até fora da época esperada. O problema do alto volume de água precipitado, somado às falhas no planejamento desses territórios, causa perdas humanas e materiais irreparáveis, o que torna esta uma questão urgente a ser resolvida.
É preciso observar e discutir o tema sob duas perspectivas: por um lado, faz-se necessário pensar em medidas que têm como objetivo evitar que chuvas fortes como essa continuem devastando nossas cidades. Por outro, mostra-se igualmente importante propor soluções que abrandem os seus efeitos.
Emitir menos gases de efeito estufa, por exemplo, é uma ótima resposta para o primeiro ponto de vista elencado. Fomentar o transporte não poluente, preservar a vegetação nativa existente, reduzir os impactos ambientais provenientes das atividades industriais e agropecuárias são algumas das saídas capazes de frear a quantidade crescente de chuvas fortes como a que vimos ontem em Uberlândia.
Diante da segunda questão posta, temos a ampliação da infraestrutura de drenagem urbana como ponto chave para o problema que enfrentamos. Para abrandar os efeitos do alto volume de água precipitado, é preciso investir na criação e ampliação de políticas públicas que facilitem a infiltração da água em todo o solo urbano, isto é, aumentar a área permeável nas cidades. As árvores e a vegetação rasteira são capazes de reduzir a velocidade com que a água chega no solo, bem como servem como obstáculos naturais para as enxurradas.
Como exemplo dessas medidas, podemos citar o destamponamento de córregos, a documentação de um plano de arborização urbana, a implementação de jardins de chuva, a proteção de áreas de preservação permanente, o incentivo à prática das hortas urbanas, além do maior cuidado com as praças e os parques.
Mesmo que as notícias de enchentes e alagamentos atravessem mais de 40 anos, pouco é feito pelo Poder Executivo, que prioriza medidas onerosas e com efeitos a curto prazo. Criar bolsões d’água, radares de alerta de chuvas fortes e aumentar as galerias subterrâneas, por exemplo, não vão resolver o problema por inteiro.
Os debates com especialistas e ativistas realizados em audiências públicas, reuniões na Universidade Federal de Uberlândia e outros eventos nos mostram, acima de tudo, que Uberlândia precisa de representantes mais engajados com a causa ambiental e planos diretores e setoriais atualizados, para que a cidade seja cuidada como um todo.
De nada adianta aderir a uma campanha como ‘’Race to Zero’’ ou ser reconhecida como uma ‘’Cidade Inteligente’’ se não cuidamos do básico, que é o equilíbrio entre o meio natural e os artifícios criados e cotidianamente adaptados pelo homem.
Algumas outras soluções estão engavetadas, como é o caso da revisão do Plano Diretor, que deveria ser feito em 2016 e até hoje não ocorreu, um plano de arborização urbana, a adoção de parques nas áreas de córregos e leitos d’água. Medidas que dependem exclusivamente do Poder Público, que deve estar comprometido com a pauta climática, ambiental e de direitos humanos, os direitos básicos resguardados a cada um dos cidadãos.
Ser uma referência, em nossos tempos, é constituir uma cidade com planejamento para suportar os eventos climáticos extremos, evitando perdas materiais e vidas. Para a população e para estar à frente, ainda é necessário muito, especialmente um comprometimento do Poder Público e da população com a pauta ambiental, especialmente no que se aplica em nosso contexto de cidade.